terça-feira, 14 de janeiro de 2014

hoje somos eu e minha gata.
é impressionante nossa capacidade de fazer tudo errado frente à desesperadora sensação de inadequação.
ao invés de não fazer nada, a gente faz tudo errado.
ao invés de esperar a tormenta passar, no desespero, nós pegamos tudo o que dá e vamos pra rua pra tentar salvar o que temos. a dignidade. a auto-estima. as defesas. mas a água tem suas próprias regras, e o que poderia ter sido danificado acaba por ser extraviado.
meu amor está em vias de ser extraviado.
a vida vai mudando, e a gente vai fazendo tudo errado por medo de não conseguir fazer o certo.

a essa hora da noite, percebo como ela é a minha única amiga, e pra que serve ter uma pessoa assim.
eu tenho a faca e o queijo na mão, mas não quero cortá-lo. queria rir um pouco, e fazer rir também.
eu não sei se ela ainda quer me ver. antes dela viajar, nós já havíamos nos despedido. agora que ela voltou, ainda não conversamos. enquanto ela viajava, trocamos algumas mensagens.
sonhei com ela todas as noites, todos com o mesmo final. eu sempre sonho a mesma coisa. a gente nunca termina junto, e sempre ficamos devastados.

no começo, foi casual. nos vimos algumas vezes, até o dia em que nunca mais nos vimos.
por algum motivo, isso não foi um problema. a vida se ocupou de me distrair dela.
depois nos reencontramos. ela estava mudada, insegura. mantinha uma pose de que gostava de ter tudo sob controle, e o conflito já começou ali. ninguém me controla. com toda minha vocação à submissão afetiva, não consigo me deixar controlar. nem eu tenho controle sobre meus próprios atos.

eu sempre aplaudi a inconseqüência. sempre achei o máximo aqueles que se jogam na vida sem olhar pra trás. mas eu falhei em copiar esse modelo, porque minha loucura é embotada de culpa preciosismo. não consigo me separar do meu passado, porque meu romantismo frente a minha própria vida, a minha própria narrativa, me impede de menosprezar os pormenores da minha trajetória. assim, elevo todos os eventos ao máximo, como se todos os envolvidos tivessem valido a pena, mesmo quando absolutamente ninguém valeu. eu caí numa armadilha que eu mesmo armei no intuito de me apossar do tédio, do clichê e da leviandade.
agora, cá estou eu, em luz baixa, sem música, sem álcool, sem trabalho, sem estudos, sozinho num kitnet no centro de porto alegre, escrevendo num blog jamais divulgado. o cúmulo do tédio, do clichê e da leviandade.

demoramos muito pra nos adaptarmos um ao outro. de minha parte, eu fazia tudo pra que parecêssemos normais. íamos pra cidade baixa, ou pra festas completamente desprovidas de identidade, com um público grosseiro, lesado por um orgulho ensinado num lar de corn flakes, preconceito, tv a cabo, corrupção, grife e mentira. eu, um estranho no ninho, sempre, e aí encontrava minha defesa - a de não ter nada a perder, de não dever nada pra ninguém. somente nos soltávamos perto das 4h, sempre. antes disso, mal conversávamos. mal nos olhávamos. ela conversava com os dois amigos, o dela e o meu, mas não comigo. enquanto isso, o dela buscava me convencer que ela era louca por mim. o meu que eu não devia ser louco por ela.

íamos a bares, e mesma história. passávamos horas a fio sentados um do lado do outro, perto às vezes, com os braços ou as pernas se tocando, mas nenhuma palavra. aquilo me angustiava, me fazia sentir um idiota completo. fazia eu achar que eu não tinha nada pra dizer, que eu não passava de um corpo. eu não me sentia exatamente usado, apenas mal aproveitado. eu queria conversar, mas não tinha com quem. ela n só n me dava assunto como me mortificava, com os olhos, quando eu falava. o amigo dela dizia que ela era assim porque era insegura, porque tinha medo de sofrer. o meu não dizia não enxergar nada disso.

medo de sofrer?
eu também tenho medo de sofrer. todo mundo tem medo de sofrer. via de regra, ninguém quer sofrer. ninguém gosta ou acha bom sofrer. e o motivo pelo qual ninguém quer sofrer é porque todos sabem que, em algum momento, viver se torna sofrer. dor, a morte, a desilusão, a decepção, a humilhação. tudo isso acontece pra todos desde que o mundo é mundo, e por isso eu não aceitava essa desculpa. principalmente porque tudo o que eu queria era dar a ela o oposto do sofrimento.

o tempo passou. enquanto ela viajava, ficávamos longos intervalos sem nos vermos. daí então ela aparecia, e tudo voltava a ser como sempre foi: ela lá, eu aqui, nós dois juntos mas como se nunca tivéssemos nos visto.

quando ela foi morar por seis meses no centro do país, prometi visitá-la. comprei a passagem ainda antes dela se mudar. naturalmente, começamos a ceder mais, a nos abrirmos mais, a nos permitirmos gostar mais.

quando eu ia vê-la, eu botava minhas melhores roupas. eu sempre busquei ser o melhor pra ela. eu espero que ela tenha notado esse esforço. quando viajei pra visitá-la, comprei tudo novo. eu só queria que ela olhasse pra mim com olhos de admiração.

quando ela voltou, eu já tinha me mudado. aluguei essa merda de apartamento pra ficar mais perto dela.
meu único critério foi que o c4 passasse por perto, pois assim poderia vê-la de madrugada sem ter que pagar táxi.

peguei o c4 uma vez depois que me mudei. pegava mais antes de morar em poa.

naquela época, de vez enquanto terminávamos a noite na casa dela, ainda que eu n pudesse interagir com seus pais. ficávamos na sala, um ambiente enorme, raramente frequentado pelo casal. ficávamos lá, vendo tv e nos alisando, aprendendo a gostar de conviver. eu sinto muita falta dessa época. no fim, talvez o erro tenha sido me mudar pra cá.

eu sempre tive esse fraco por amoralidade, por inconseqüência, e sempre fui de querer conhecer várias gurias, principalmente porque quando meus colegas começaram a ficar com as meninas, eu não pegava ninguém. cresci odiando a todos eles, por outros motivos que não vem ao caso, e superar eles também nisso sempre foi uma meta pra mim. uma falha de caráter, algo que eu deveria superar sendo maior que toda aquela merda de sensação que eu passava morando na serra. hoje eu vejo que o problema não era a serra nem seus habitantes. eu continuo sendo igualmente trouxa.

um paradoxo se formou. eu queria pegar muita mina, mas queria ser o cara mais honrado para com a minha dama oficial.

terminei não ficando com mais do que uma ou outra, mas chegava no meu apartamento e olhava minha cama de casal e pensava: muito grande pra uma pessoa só. por isso ficava sondando todas as possibilidades sexuais possíveis. vai que eu me sentisse carente. pra não me sentir culpado, sempre mantive meu relacionamento com ela sem muitas definições. eu me aproveitava do fato de que ela não tinha aceitado namorar comigo quando eu pedi, isso em 2011, na porra dos ladrões do vilaró, ela bebendo mojito, eu uma ceva quente e cara.

um dia, passados 4 meses da volta dela pra porto alegre, ela descobriu que eu tinha ficado com uma guria numa festa. ela ficou revoltada e eu usei a carta mais óbvia: não namoramos. a partir daquele dia, decidimos namorar, mas eu fui muito trouxa e, uns 2 meses depois, fiquei com outra.

conheci uma guria num bar, e como fazia tempo que eu não ficava nem com ninguém, nem sem ela numa festa, resolvi ver qual era. botei as informações no bolso, fiz contato na internet e a própria internet se encarregou de foder tudo. ela viu minhas mensagens, e eu vi as dela, e nós ficamos quase um mês sem nos falarmos.

demorei muito pra conseguir trazer ela de volta, e desde então me comportei muito bem. terminei um tcc enorme e traumático e finalmente me livrei de tudo.

no meu aniversário ela parecia uma fada, linda. tinha me dado um presente maravilhoso.
eu não precisei ficar com ninguém pra levar ela as lágrimas na minha própria festa.

desde então, a situação está um lixo, e eu estou cansado de fazer mal a ela, de querer uma vida que não tenho, de achar que às vezes quero e às vezes não quero.

estou francamente confuso, mas muito, muito triste. desoladamente. a incerteza está me deixando muito deprimido quando eu deveria estar mais feliz, formado e resolvido.

tenho 26 anos, 6 a mais do que tinha quando criei esse blog.
me vejo na mesma fossa de outrora.
me vejo, porém, menos inteligente, menos voluntarioso, menos interessado.
parei de ver filmes, parei de ler, parei de escrever, parei de baixar bandas, parei de curtir coisas novas.
me tornei uma pessoa que se conforma com a mesmice, e culpo meu relacionamento por isso. assim, em não querendo aceitar a mesmice, fico confuso se quero ou não quero continuar com ela.
o que me chateia é que pra ficar com ela eu não tenho saco por associar isso à idéia de conformação, mas pra não fazer nada por pura preguiça eu me conformo super de boa.

queria ser diferente.
queria ser perfeito, que meus defeitos fossem menos prejudiciais.
queria ter vontade de estudar mais, de aprender mais, de trabalhar mais.
sou um vadio, só quero dormir e me divertir, e me sinto muito culpado por isso.
porém, não consigo mudar.

eu queria terminar esse texto com uma nesga de esperança, com a idéia de que sua conclusão é o que vou levar após o ponto final.
acho que preciso dormir.
queria conversar com alguém pra quem eu não precisasse mentir que estou bem.